O nosso amigo Lucas Preis nos mandou a tradução da entrevista completa e estamos postando para que fiquem por dentro do que aconteceu. Confira:
NBA.com: Teve tanto falatório durante os anos do Shaq...vocês são amigos?
Kobe Bryant: Não.
Qual era o problema? Porque vocês não podiam coexistir?
Eu sou obsessivo, eu acredito que temos que trabalhar o dia inteiro pra chegarmos aonde queremos e ele queria fazer de outro jeito. Então esse constante desafio tinha que terminar, mas eu não queria dar pra trás, nem ele. Ele queria que eu jogasse de um jeito, passasse a bola pra ele, eu dizia: trabalhe! Se você não trabalhar não te dou a bola. Ele me dizia: joga a bola pra mim. Eu dizia: Não! Trabalhe! Nós nunca fomos amiguinhos, de ficar de brincadeiras, um olhava pro outro e dizia: vamos lá vencer.
Você ganhou com o Shaq, depois ele foi embora. Era mais importante vencer sem ele?
Ah sim! Porque esse era o desafio. Para alguns eu não poderia fazer isso, mas eu sabia que sim, Shaq sabia que sim. Eu ficava insultando com as pessoas acharem que não sou esse cara. Ficavam dizendo para eu parar de ser egoista, depois diziam: Você não pode vencer um titulo sozinho!...Hã? O que aconteceu com o papo de não ser egoísta
Mas você tambem queria esse desafio pra si, não é?
Sim, eu queria ver, eu preciso fazer isso. Quando você vence, você não quer perder isso, te deixa com mais vontade de vencer. Você vira mais maniaco, mais obessivo, porque você não quer que os outros tenham essa sensação. Você quer denovo.
Você acha que seu jogo continuou bem como era antes? (com Shaq)
Ah sim, absolutamente. Fisicamente eu estava lá, mentalmente eu estava lá.
Foi aí que o "Black Mamba" surgiu?
Haha! Sim, sempre existiu, eu só dei um nome pra isso. Como eu disse, existe uma diferença entre o quem você é e o que você é. Quando estou na quadra eu sou aquela cobra matadora, sou uma pedra de gelo cara!
Pessoalmente, você quer provar que pode vencer sem o shaq, mas quando você olha em volta, vê que não vai ser fácil. Como você lida com isso?
Paciência. Depois dos três títulos ficamos anos sem vencer, você tem que entender que a hora irá chegar, porque você tem que continuar batendo nessa porta até chegar a hora, e quando chegar o momento você tem que aproveitar.
Você conseguiu convencer os seus companheiros a serem assim?
Cara, esse é o desafio. É muito difícil fazer todos estarem contigo. Esse é o grande desafio, ainda mais pra uma pessoa com a minha personalidade. Quando você vê que algo não está certo e acredita que pode analisar isso e concertar sozinho. Se eles não vão fazer isso sozinho, você carrega eles sozinho. Issofaz a liderença ser algo difícil.
É algo solitário?
Ser líder é ser sozinho. Mas isso não tem problema. Eu não tenho medo de confronto. As pessoas acham que a liderança funciona com todos se abraçando e dando tapinha nas costas quando alguém faz algo errado, mas isso não é a realidade. Se você quer ser um líder você não vai agradar todo mundo. Eu comparo com uma situação: você está numa mesa com alguém e essa pessoa tem uma
sujeira nos dentes. Você fica com medo de avisar a pessoa e ela anda pelo restaurante sorrindo com os dentes sujos. E eu sou aquela pessoa que não tem medo de se sentir desconfortável e dizer que a pessoa tem algo nos dentes. Aí é sua escolha de limpar os dentes ou deixar sujo e parecer um idiota.
Você acha que chegou o fim de sua era?
Eu não posso dizer que seja o fim da minha era porque pensei que fosse o fim do San Antonio Spurs e eles ainda estão vencendo. Então, não dá para dizer que acabou para mim. Eu estou torcendo para ter o mesmo tipo de ‘renascimento’ deles.
Você teve uma lesão, me conte sobre a lesão e como vai passar o resto do ano.
Eu tenho jogado com esse problema no ombro por muito tempo. Eu sentia doer, mas tudo bem, eu conseguia arremessar, só que foi piorando até ocorrer a lesão.
Como é lidar com uma lesão? Você está bem e bum, do nada está machucado.
Você só controla o que pode controlar.
E você nunca teve uma lesão que achou que não conseguiria voltar?
A do aquiles. Aquela foi brutal.
Mas você se reabilitou e voltou.
Eu fiz o que eu tinha que fazer. Tinha momentos que eu desanimava, pensava na linha final. Mas tenho que ver a situação com outros olhos, e assim levando. Está acontecendo comigo agora, com essa lesão no ombro. Os médicos dizem: você vai ter que passar por um longo processo de recuperação. E eu fico: oooooooh mas eu acabei de passar por isso! Eu acabei de ficar 9 meses me recuperando. E vou ter que fazer denovo.
O que te motiva querer voltar?
Minha motivação agora é o processo. Quero ver se posso me recuperar. Não sei se consigo e quero descobrir. O que vou fazer é
o que sempre faço: reduzir o processo a sua menor forma, em seus mínimos detalhes e trabalhar diariamente. Levar um dia de cada vez.
Fale sobre Jordan.
Jordan era muito técnico. Você aprende muito jogando contra ele. A técnica dele não tinha falhas, eu queria garantir que a minha também não teria. Ele foi muito inspirador pra mim. Quando eu era pequeno eu só queria fazer o que ele fazia, não importa o quão trabalhoso e cansativo seria isso. Não importa a lesão que eu tenha, eu sei que tem crianças me olhando e buscando essa inspiração para jogar também.
Você tinha metas e objetivos quando chegou na NBA?
Sim, era bem simples pra mim: ganhar o máximo de campeonatos possíveis. Era isso. Eu cresci vendo o Magic vencer 5, Jordan vencer 6, minha expectativa era alta.
Teve aquele jogo que você e Michael Jordan ficavam se provocando. Vocês falaram que não ficaram, mas eu sei que sim! Eu estava sentado bem na frente e vi tudo. Um dizia que ia fazer mais ponto que o outro, e outras coisas. No corredor, Michael te viu e disse: “Eu adoro esse cara, ele é um guerreiro. Não recua.” Quantos anos você tinha?
Tinha 21 anos. Eu cresci vendo ele jogar. Eu cresci tendo o mesmo senso de competividade. Michael e eu sabemos, que existem certos tipos de jogadores que nós podemos intimidar, certos tipos de jogadores que percebemos que estão com medo. Mas você percebe também quando vê um jogador que tem o mesmo DNA que você, mesmo espirito competitivo que você, e rapidamente você percebe que o bullying e o trashtalk não vai funcionar com ele.
Tem algum jogador de hoje, que você que tem o mesmo fogo, a mesma paixão que você tem?
Westbrook é malvado. Ele joga com raiva que nem eu. Com agressividade. Bem do jeito que eu jogo.
Voce se vê jogando outra temporada difícil como foi as ultimas duas?
Não. Mas quando você passa por situações, a única opção é enfrenta-las. Que escolha você tem? Você não pode fugir delas. Com as lesões eu tive tempo para sentar e pensar no que virá depois. Eu sempre soube que esse dia chegaria, desde os meus 20 anos eu penso no que vou fazer depois, então estou sempre procurando por isso. A lesão no aquiles, que não me deixava nem se mexer, me fez pensar: "Uau, eu realmente preciso pensar mais no que farei depois". Isso me ajudou na recuperação da lesão, minha mente podia pensar em outra coisa.
As pessoas pensam que você só vive de basquete. Mas elas não te conhecem.
Sim sim, claro que elas pensam isso. Mas pessoas nas ruas dizem: “Eu não gosto do Kobe!”. Tá, mas porque? “Ah, ele é arrogante!”. Tá, quando eu jogo, ok, provavelmente sou um pouco. Mas isso é o que eu faço e não quem eu sou. Tem uma diferença nisso. Quando eu entro em quadra, eu me transformo em algo que não sou como pessoa. As pessoas as vezes falam: “Nossa eu não pensava que você fosse legal assim.”. Ué, como você achava que eu era? “Ah...não desse jeito!” haha.
Conte como o Phil Jackson foi importante na evolução do Kobe.
Quando ele chegou aqui, tudo mudou para mim, em como visualizar o jogo. Antes eu pensava muito na parte de atacar, executar, fundamentos e essas coisas. Eu aprendi a espiritualidade do jogo. Aprendi como deixar seu ego de lado e jogar um basquete aplicado
Quando você fala sobre seu propósito no basquete, tem muito a ver com o Phil Jackson?
Não, desde pequeno eu já sabia do meu proposito, já sabia porque Deus me colocou na Terra, pra jogar basquete, eu amo isso. Como um grande jogador que és, sempre querendo mais, com Phil Jackson que tem a mesma filosofia que a sua, e aí chegou o Tex. (assistent head coah). Eu liguei pro Tex em 1999, ele ainda estava no Bulls, falamos por mais de uma hora. Eu só queria o cérebro dele.
Foi estranho ligar pra ele?
Não, eu ligo pras pessoas o tempo todo, quando quero aprender algo, quando tenho uma duvida, eu ligo. O time dele era tão harmoniaco, eu não sabia qual era desse triangulo, como funcionava, porque acreditavam nele, porque funcionava. Quando ele virou um dos nossos técnicos eu fiquei: “Uau, isso é demais, vou ter a chance de aprender tudo isso.” Eu chamo ele de Yoda, eu estava muito feliz de ter ele aqui, nós sentamos juntos e assistimos vídeos de vários jogos. Quando sentamos pra assistir os jogos eu falei “Ok, vamos ver as minhas jogadas” e ele disse: “Não, vamos assistir o jogo do inicio até o final.”
E você gostou disso?
Eu gostei. Porque dai eu comecei a planejar mais o jogo. Eu comecei a ver o jogo da mesma forma que eu via quando assistia pela TV. Parecia que o jogo estava mais lento e assim eu conseguia manipular melhor a partida, eu podia colocar os companheiros nas posições certas, organizar as coisas.
Então você achou que te fez ser melhor ainda. Qual foi a sensação disso?
De quero mais! Quero aprender mais, trabalhar e aprender mais. Deve ter um nível maior ainda e quero estar lá.





